ENGENHARIA NO NIASSA (NOVA COIMBRA ..LUNHO
Companhia de Engenharia 1531
Texto escrito por
José Artur Faria
Furriel Milº da CENGª 1531
Para NOVA COIMBRA foi enviado um Grupo de Combate comandado pelo Alferes Mesquita Ramos, auxiliado pelo 1º Sargento Bastos e pelos Furrieis Milicianos Albergaria, Carvalho e Matos, com a missão de construir a Picada (24 Kms) entre NOVA COIMBRA e LUNHO, que incluía a construção de vários pontões.
A construção das picadas era vital para o Exército Português para poder progredir até MIANDICA e daqui para OLIVENÇA, onde se encontrava o Furriel Miliciano Tavares Pereira nos trabalhos de ampliação da pista para aviões Dakota, com aumento de 400x25m de faixa ensaibrada e compactada, abertura da picada OLIVENÇA/ proximidades LUGULUZIA (100 Kms) e ampliação da pista de aviação de PAULÍA com aumento de 10 M largura em toda o comprimento, acrescentando num dos topos 200M, ficando com 900x40M.
A Frelimo tudo fazia para impedir a realização da obra, daí a colocação no percurso de muitas minas anti-carro e anti-pessoal, as quais provocaram às nossa tropas 2 mortos, um da CEngª 1531 e outro da CCAV 1506 que era a Companhia residente em NOVA COIMBRA e fazia a segurança dos trabalhos. Os estragos de materiais também foram elevadas visto que ficou totalmente destruída uma Bulldozer e estragos noutras máquinas de Engenharia.
Mais um Pontão destruído |
No terreno junto ao pontão a Frelimo colocou minas anti-pessoal que felizmente foram descobertas a tempo, porque connosco seguia um prisioneiro que conheia bem as técnicas da Frelimo e que neste pontão destruído "ver" e desmantelar uma armadilha pronta a rebentar quando nós chegássemos para reparar aquele pontão.
Assim foi feito e no meu caso pessoal, partimos de MESSENGUECE via MARRUPA, VILA CABRAL, MEPONDA onde embarcámos numa lancha directos a METANGULA. Daqui seguimos para NOVA COIMBRA.
NOVA COIMBRA era um local abandonado por Deus, instalações sem qualidade e sem população civil. A água que usávamos era-nos facultada por um auto-tanque que percorria cerca de 10 Kms até ao LAGO NIASSA
Em NOVA COIMBRA re-iniciámos os trabalhos na picada e pontões.
Devido ao excessivo rebentamento de minas, que davam cabo dos materiais, foram-nos entrgues pela PIDE, um grupo de cerca de 20 prisioneiros que acorrentados pelos pés e unidos uns aos outros, e, com bocados de verguinha iam picando a picada na tentativa de descobrirem e levantarem as minas detectadas. Para os abrigar, foi construída uma prisão com manilhas cheias de terra compactada, cuja porta era tapada com uma velha ambulância inutilizada, cuja traseira tapava a entrada.
Passado pouco tempo as minas na picada quase desapareceram, mas os estragos nos pontões continuaram. Nós construíamos eles destruíam.
Pouco depois dos prisioneiros chegarem, começaram a aparecer nas redondezas do aquartelamento mulheres com crianças, que acabámos por saber que eram as esposas e filhos dos prisioneiros.
Em Maio/ Junho de 1967 parte da Companhia montou o acampamento (X) sensivelmente a meio caminho entre NOVA COIMBRA e o LUNHO. Neste acampamento estavam a CEngª 1531, a 1ª do BCAÇ16 (Viet-Beira) a fazerem a escolta aos trabalhos e a alguns elementos da 2ª CEngª. Algum pessoal desta Companhia já estava no futuro Quartel do LUNHO.
O Alferes Carvalho "100" era uma pessoa de uma grande simplicidade e agradabilidade, com ele fabriquei cartuchos de caça utilizando as balas da G3, utilizadas da seguinte maneira:Sacávamos o projéctil , tirávamos umpouco de pólvora, tampávamos com papel higiénico húmido, espalmando o projéctil cortávamos o chumbo em bocados o mais pequeno possível, voltávamos a meter no cartucho e tampávamos com papel higiénico húmido.
Após muita morosidade nos trabalhos, acabámos por concluir os oito pontõese a picada para o LUNHO.
Em Setembro de 1967 a 2ª CEngª tomou posse do aquartelamento do LUNHO. Esta Companhia além de melhorar o quartel ficou com a Missão de reconstruir a Ponte sobre o RIO LUNHO
Seguimos para MARRUPA onde iniciámos a construção do quartel de Inverno da Engenharia.
Regressámos à Metrópole no final de Janeiro, embarcando em NACALA no N.M "Niassa", chegando a LISBOA a 2 de Março de 1968.
Companhia de Engenharia 1531
Em Miandica
Texto escrito por
Eduardo Carvalho
Furriel Milº da CENGª 153
Enquanto decorriam os trabalhos na Picada NOVA COIMBRA-LUNHO a "minha" secção recebeu ordem para se deslocar para MIANDICA, onde iria ser construído um Aerodrómo e melhorar a segurança do acampamento ali existente, cujo residentes era um Pelotão da CCAV 1507. Os trabalhos de aterro demorou pouco tempo, visto que havia muita profissionalização entre nós a manobrar as máquinas. De repente e quando passávamos para o outro lado dum riacho, cujo leito estava seco e, onde já estavam as máquinas, apareceu o Serafim a gritar que não via os camaradas que manobravam as máquinas. De imediato corri para junto das máquinas e qual não foi o meu espanto quando me vi envolvido por um enxame de abelhas. De tal forma fui "atacado" que tive de ser evacuado para NOVA COIMBRA. Passados poucos dias regressei a MIANDICA
MIANDICA destroços duma DO |
Foi um pesadelo, para nós, a construção do aerodrómo era contrária aos interesses da Frelimo e, esta tudo fez para neutralizar a obra. . Recordo a voluntariedade do Serafim, quando na pista estávamos a ser atacados e as munições da bazuca estavam a acabar. O Serafim com coragem correu para o acampamento, voltando com um saco cheio de munições. Com ele vieram 2 soldados da CCAV 1507 que foram rendidos em Março de 1967 por um Pelotão da CCAÇ 1559. Durante este tempo só fomos reabastecidos 2 vezes por helicóptero, visto que por terra era impossível. Podemos dizer que passámos fome durante vários dias.
AGRUPAMENTO DE ENGENHARIA DE MOÇAMBIQUE
Texto de. José Machado Dray, Coronel de Engenharia
Quando no início de 1967, então Tenentes, chegaram a Lourenço Marques, os Oficiais, Sá Viana Rebelo e Machado Dray. Existia uma 1ª Companhia já levantada e com pessoal e uma 2ª Companhia também levantada, porém unicamente com algumas praças e poucos quadros. O tenente Sá Viana Rebelo assumiu o comando da 1ª CENGª, iniciando quase de imediato deslocações por Moçambique, em missões individuais diversas. Também um dos seus Pelotões rumou a TETE. A 2ª CENGª por mim comandada, começou a agregar Oficiais, Sargentos e Cabos Milicianos. Se os Alferes eram da Metrópole, o restante pessoal era de Moçambique. Os soldados, com o 1º Ciclo tirado em Boane, foram colocados na 2ªCENGª, que se transformou em Companhia de Instrução.
O 2º Pelotão da 2ªCENGª no LUNHO |
A Meio de 1967, a 2ª CENGª já tinha destacado os 2º Pelotão para a área do Lunho e o 3º Pelotão, para em acção específica da "Operação Roaz" (transporte de lanchas da Marinha até Meponda..
Meses depois a Companhia reuniu-se no Lunho, para o aquartelamento construído pelo 2º Pelotão.
A 2º CEngª foi sucessivamente comandada pelos Capitães José Machado Dray, Pedro Sá Viana Rebelo, António Correia Leal, António Cecílio Gonçalves Carlos Cardoso Alves , António Miranda dos Santos e João Vasconcelos Piroto.
A base da 2ª CEngª entre 11 de Agosto 1967 e Março de 1968 era no LUNHO, um aquartelamento improvisado onde este era atravessado por uma velha ponte já danificada pela Frelimo.
Trabalhos de recuperação da velha ponte do LUNHO
No entanto já desde Maio do mesmo ano se encontrava no LUNHO o 1º Pelotão da Companhia.
A Missão da 2ª CEngª era reconstruir a ponte danificada possibilitando a circulação entre METANGULA e o extremo Norte do Distrito do NIASSA, junto ao LAGO.
Os trabalhos preparatóios tiveram início logo com a chegada do 1º Pelotão tendo-se intensificado com a chegada da totalidade da Companhia equipada quer com meios humanos, quer mecânicos, quer materiais, especialistas nas diversas áreas de da engenharia militar, máquinas de movimentação de terras, viaturas e outros meios adequados.
A segurnça da Companhia, quer em aquartelamento, quer em deslocações e trabalhos, era feita por um Pelotão deslocado da 1ª Companhia do BCAÇ 16.
Os reabastecimentos, tanto em materiais como em géneros alimentícios, eram efectuados desde METANGULA, por NOVA COIMBRA e o LUNHO objecto de flagelação constante através de minas com a conseuente destruição e avaria do equipamento que as accionava e ferimentos, alguns de gravidade, nos militares atingidos
A Ponte com mais de duzentos metros de comprimento, necessitava de beneficiação dos inúmeros pilares de suporte do tabuleiro, em alvenaria, algo danificados e da total construção do tabuleiro.
Os materiais escasseavam e não estiveram disponíveis desde o início dos trabalhos, tendo-se dado início à reparação dos pilares aguardando-se a chegada dos elementos estruturantes do tabuleiro
Trabalhos de recuperação da ponte do Lunho |
Os materiais escasseavam e não estiveram disponíveis desde o início dos trabalhos, tendo-se dado início à reparação dos pilares aguardando~se a chegada dos elementos estruturantes do tabuleiro e dos elementos que iriam constituir o piso de rolamento.
A par dos trabalhos nos pilares, da edaquação do aquartelamento ao número de militares que o habitavam - uma companhia de engenharia com mais de 200 homens e um pelotão de segurança - foi dado início à construção de uma pista de aviação que se requeia operacional em algumas semanas e á abertura da picada à ponte para norte (MIANDICA).
Eram estas as três frentes de trabalho que decorreram desde Setembro até ao início das chuvas intensas em Dezembro/Janeiro de 1968.
Em Fevereiro teve lugar uma primeira grande movimentação de pessoal e equipamento do LUNHO para VILA CABRAL, onde a companhia passou a estar temporariamente sedeada, tendo permanecido, ainda, no LUNHO, dois pelotões que continuaram os trabalhos na ponte.
Na segunda quinzena de Junho, com a companhia já sob o comando do Capitão Sá Viana Rebelo, efectua-se a última movimentação de equipamento e pessoal tendo a companhia abandonado o LUNHO, para uma nova e diferente missão no LUÂNGUA.
A ponte já estava operacional desde Fevereiro permitindo a sua utilização por viaturas, tendo, embora, as vigas principais umas em madeira e outras em prfis de aço e todo o piso de rolamento em madeira
Mais tarde, já em final de 1970, agora sob o comando do Capitão Cecílio Gonçalves, a 2ª CEngª regressou ao LUNHO, com a missão de substituir o piso de rolamento em madeira por um em betão.
A obra apesar de muitas contrariedades provocadas pela Frelimo foi concluída em Julho de 1971
A nova ponte do Rio LUNHO |
Mas depressa se iniciaram os trabalhos da sua reparação
Texto escrito por
Manuel Jorge
Furriel Milº de Engenharia
Depois de tirar em TANCOS um curso de construções de Engenharia, com mais 28 camaradas, alguns licenciados na área de Engenharia e Arquitectura, pensava eu que a guerra acabaria e que como tinha ficado num lugar razoável da-me a hipótese de não ir para as Províncias Ultramarinas. Chegou até uma colocação em Janeiro de 1973 para TOMAR onde iniciei a construção do ainda hoje Quartel da Polícia Militar. Certa tarde de Julho quando cheguei ao Departamento da DSFOM de TOMAR, tive a "linda notícia" que estava mobilizado para Moçambique. A 26 de Junho, lá vou eu em rendição individual de avião para a 2ª Companhia de Engenharia que estava em VILA CABRAL no Distrito do NIASSA. Ainda andei por lá uns dias, mas como não tinha "padrinhos" amigos....LUNHO com ele. Quando no final de Jinho aterrei num D.O. no LUNHO fiquei assim...como que paralisado, a ver o que acontecia. Só tinha visto uma coisa daquelas em livros sebentos em TANCOS, mas o que estava à frente dos olhos, era bem pior do que víamos nos filmes sobre o Vietname.
Manuel Jorge em tronco nu, no LUNHO em 1973 |
Cap. António Cardoso da CCaç 4141 e o Cap. Serafim da 1ª do CCaç 3850, junto à placa do Aeródromo de Miandica. A foto é de 1973 |
No dia seguinte recebi ordens de que era preciso alargar a picada e "esticar" a pista, para que o avião, que iria transportar Altas Patentes, que iriam fazer a inauguração da pista pudesse aterrar em segurança. Respondi que se o avião aterrasse em 700 Metros, tentaria tê-la pronta numa semana. Ao fim de três dias de trabalho o riacho que nos abastecia de água secou e a nossa vida complicou-se. Lá veio o dia que o Rancho foi melhorado (no dia anterior tínhamos comido macaco assado na fogueira) e andávamos há 15 dias a sopa de feijão, íamos ter a visita do "mandão" da Engenharia, que ao chegar reuniu comigo e prontificou-se a agraciar-me com uma medalha. Recusei de imediato e como resposta ouvi uma ameaça de prisão.
Destroços do antigo aquartelamento de Miandica. Numa das placas feitas em Novembro de 1967 estão os nomes do Alferes Monteiro e dos Furrieis, Amadeu, Matos e Júlio da CCaç 1558CCaç 1558 |
Os heróis fostes vós camaradas e ainda bem que neguei a medalha pois também não seria bem entregue. Hoje, depis de ver de novo o vídeo os olhos emudeceram.
Os VENTOS DE GUERRA, amigos. De no LUNHO ter aprendido o CANCIONEIRO DO NIASSA e de ter deixado crescer o bigode para toda a vida, regressei ao quartel de VILA CABRAL por interesseira ou meritória.
1 Comentários:
Numa guerra de guerrilha, como aquela que Portugal enfrentou, em terras de Moçambique qualquer força de intervenção, se tornava extremamente vulnerável, sempre que tinha de executar os seus movimentos hábitos e procedimentos. Era esta a situação e perante este perigo que se encontrava, a Companhia de Caçadores 41 41 os Gaviões, sediada no buraco mais famoso do Niassa o Lunho. Ao ter de realizar diariamente ao inicio da manhã, e ao fim da tarde um percurso de vinte e poucos quilómetros, entre o Lunho e o planalto da Miandica para reabastecer a segunda Companhia de Engenharia, que se encontrava a fazer a terraplanagem, à construção de um aquartelamento, afim de ser colocada uma companhia de militares. As nossas viaturas perigosamente expostas, às investidas dos guerrilheiros da Frelimo, tanto pela forma de emboscada, como possíveis minas na picada. Um certo dia ao fim da tarde começou a escurecer o sol perdia o seu fulgor, quando uma Berliet com pessoal acabava de sair da Miandica para o Lunho o local ficava ao cimo de uma elevação, de terreno cujo acesso se fazia por uma picada solta e de inclinação pouco frequente acionou uma mina anticarro o pessoal que viajava na carroçaria foram projetados para a picada apenas tiveram ferimentos ligeiros essa viatura pertencia à Companhia de Caçadores 41 41 os Gaviões que faziam a proteção à companhia de engenharia. Os populares ataques à frente dos trabalhos da Miandica não eram invenção mesmos que não fossem frequentes seriam certamente o bastante para transformar num inferno a vida de quem tinha por missão a defesa daquele pedaço de soberania Portuguesa.
Texto de Bernardino Peixoto soldado corneteiro da Companhia de Caçadores 41 41 os Gaviões.
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