O Correio
O CORREIO
Amadeu Neves da Silva
Furriel Miliciano da C:CAÇ 1558
O dia do correio era sem qualquer dúvida, o mais importante da semana e o que causava mais ansiedade ,alegrias e às vezes tristezas. Quando chegava era, em alvoroço que cada um de nós se refugiava na leitura das cartas e os pensamentos voavam para junto dos entes queridos. Havia ,infelizmente na CCAÇ 1558 muitos analfabetos, e isso reflectia em toda a plenitude o que era o Portugal de então. Esses “coitados” tinham que esperar e partilhar as suas alegrias e confidencias com algum companheiro mais chegado que lhes liam as cartas e escreviam as suas respostas.
Mas, também chegavam más notícias. Recordo o desespero do “Mirandela ” quando no ILE-ERRÊGO um companheiro e seu amigo lhe leu carta onde era anunciado a morte do seu pai.
Felizmente eu, recebi e enviei centenas de cartas. Mas entre elas há algumas que não se me apagam da memória e que as recordo com saudades dos tempos idos.
As primeiras a surpreenderem e a comoverem foram recebidas em NAMARROI. Recebi uma fita gravadora . As mensagens gravadas dos meus pais, irmão , da minha namorada, hoje esposa e de alguns amigos incentivam-me a ter esperança visto que o tempo passaria depressa .Como foram comoventes e de enorme animo as palavras das pessoas que eu amava.
Ainda em NAMARROI, e vindo ao escurecer duma patrulha, foi-me entregue o correio e debaixo do alpendre que servia de refeitório, entre várias cartas , houve uma que me despertou grande curiosidade . Era a primeira carta da minha jovem prima Luísa. Abri-a de imediato .Li e reli-a, e as lágrima soltaram-se. A Luísa no entusiasmo da sua juventude escreveu palavras de muito carinho e de esperança, mas o que foi mais marcante na sua carta foi o anuncio da conclusão do seu Curso Comercial.
O aumento dos minha família , nascimento dos meus sobrinhos Jorge e Carla foi-me anunciado quando estava em Nova Coimbra Abril de 1967, e em Nova Viseu Julho de 1968. Esta com a particularidade de ter nascido no mesmo dia que eu ( 14 de Julho ).
Em Nova Coimbra havia um dia da semana que chegava o avião D O , com abastecimentos e o bem aventurado correio. Quando por qualquer motivo o avião se atrasava era normal subirmos à barreira existente e olhava-mos o horizonte em direcção a Vila Cabral. A visão e ao audição estavam estava bem atentos e quando ao longe se vislumbrava o avião era uma festa.
Em Miandica , o ócio, as dificuldades e as carência eram totais. Os pensamentos e as saudades vagueavam por aquele local de má memória .O reabastecimento era realizado em péssimas condições e muito irregular. E por isso as faltas de tabaco e do correio eram as que mais se faziam sentir , o que agravava o nosso estado de espírito.
Mas ,foi lá que recebi e enviei as cartas mais sentidas e profundas e as que mais me marcaram em toda a Comissão.
A 25 de Novembro de 1967 houve as grandes inundações na região de Lisboa . Eu, soube de madrugada pelo Rádio Clube de Moçambique do desastre. Fiquei deveras preocupado e só sosseguei quando soube que nada tinha acontecido aos meus familiares .
Ainda em Miandica, minha prima Maria, com grande dor e em desespero , disse-me na sua carta que tinha perdido o filho que trazia no ventre e que o seu casamento não ia bem. Foi um choque .Eu que na aquele malfadado local estava extremamente fragilizado , consegui reunir força e respondi-lhe com enorme emoção e comoção. Recordo que fui capaz de lhe transmitir ânimo e vontade de forma que ela percebesse que apesar do infortúnio e dificuldades a vida continuava.
No “Mata-Bicho” , de Maio a Julho , três Pelotões da 1558 foram deslocados para Nova Viseu. Aqui ,voltou outro pesadelo da falta de correio acrescido de o “Pré “ não ser pago ,visto que o nosso SPM estava no Alto Molócué a correspondência e o soldo vinha para esta localidade que de seguida era enviada para Vila Cabral onde ficavam retidos , porque não havia ninguém que os reencaminhasse para Nova Viseu. Foi necessário que o Capitão Delgado alugasse às nossas custas um Táxi-Aéreo para se deslocar a Vila Cabral para que a situação se normalizasse.
Amadeu Silva
Furriel Miliciano da C:CAÇ 1558
Mas, também chegavam más notícias. Recordo o desespero do “Mirandela ” quando no ILE-ERRÊGO um companheiro e seu amigo lhe leu carta onde era anunciado a morte do seu pai.
Felizmente eu, recebi e enviei centenas de cartas. Mas entre elas há algumas que não se me apagam da memória e que as recordo com saudades dos tempos idos.
As primeiras a surpreenderem e a comoverem foram recebidas em NAMARROI. Recebi uma fita gravadora . As mensagens gravadas dos meus pais, irmão , da minha namorada, hoje esposa e de alguns amigos incentivam-me a ter esperança visto que o tempo passaria depressa .Como foram comoventes e de enorme animo as palavras das pessoas que eu amava.
Ainda em NAMARROI, e vindo ao escurecer duma patrulha, foi-me entregue o correio e debaixo do alpendre que servia de refeitório, entre várias cartas , houve uma que me despertou grande curiosidade . Era a primeira carta da minha jovem prima Luísa. Abri-a de imediato .Li e reli-a, e as lágrima soltaram-se. A Luísa no entusiasmo da sua juventude escreveu palavras de muito carinho e de esperança, mas o que foi mais marcante na sua carta foi o anuncio da conclusão do seu Curso Comercial.
O aumento dos minha família , nascimento dos meus sobrinhos Jorge e Carla foi-me anunciado quando estava em Nova Coimbra Abril de 1967, e em Nova Viseu Julho de 1968. Esta com a particularidade de ter nascido no mesmo dia que eu ( 14 de Julho ).
Em Nova Coimbra havia um dia da semana que chegava o avião D O , com abastecimentos e o bem aventurado correio. Quando por qualquer motivo o avião se atrasava era normal subirmos à barreira existente e olhava-mos o horizonte em direcção a Vila Cabral. A visão e ao audição estavam estava bem atentos e quando ao longe se vislumbrava o avião era uma festa.
Em Miandica , o ócio, as dificuldades e as carência eram totais. Os pensamentos e as saudades vagueavam por aquele local de má memória .O reabastecimento era realizado em péssimas condições e muito irregular. E por isso as faltas de tabaco e do correio eram as que mais se faziam sentir , o que agravava o nosso estado de espírito.
Mas ,foi lá que recebi e enviei as cartas mais sentidas e profundas e as que mais me marcaram em toda a Comissão.
A 25 de Novembro de 1967 houve as grandes inundações na região de Lisboa . Eu, soube de madrugada pelo Rádio Clube de Moçambique do desastre. Fiquei deveras preocupado e só sosseguei quando soube que nada tinha acontecido aos meus familiares .
Ainda em Miandica, minha prima Maria, com grande dor e em desespero , disse-me na sua carta que tinha perdido o filho que trazia no ventre e que o seu casamento não ia bem. Foi um choque .Eu que na aquele malfadado local estava extremamente fragilizado , consegui reunir força e respondi-lhe com enorme emoção e comoção. Recordo que fui capaz de lhe transmitir ânimo e vontade de forma que ela percebesse que apesar do infortúnio e dificuldades a vida continuava.
No “Mata-Bicho” , de Maio a Julho , três Pelotões da 1558 foram deslocados para Nova Viseu. Aqui ,voltou outro pesadelo da falta de correio acrescido de o “Pré “ não ser pago ,visto que o nosso SPM estava no Alto Molócué a correspondência e o soldo vinha para esta localidade que de seguida era enviada para Vila Cabral onde ficavam retidos , porque não havia ninguém que os reencaminhasse para Nova Viseu. Foi necessário que o Capitão Delgado alugasse às nossas custas um Táxi-Aéreo para se deslocar a Vila Cabral para que a situação se normalizasse.
Amadeu Silva
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Página inicial