TODOS FOMOS PORTUGAL
P o r : G e r m a no Rio Tinto
CC a ç. 1 5 6 0
M a s a alma acesa não aceita
E s s a m o rte absoluta, o nada
D e q u e m foi Pátria, e fé eleita
E u n g i d a espada
A i n d a de longe nos anima,
I n da na alma nos conduz.
G l á d i o de fé erguido acima
Da nossa cruz !
Nada sabemos do que oculta
O véu igual de noite e dia.
Mesmo ante a morte a Fé exulta:
Chora e confia.
F e r n a n d o P e s s o a
M e n s a g e m
Naquele 28 de Fevereiro de 1967 cumpriu-se Portugal. Estar presente, meramente presente, foi ser fogo e vida,
ainda que mediante o horror dos corpos tisnados dos nossos queridos amigos.
Deus não escreve a História por acaso. Ele, o grande autor da História de Portugal no Além - Mar, quis e a gesta cumpriu-se. Quem ficou e quem partiu? Quem na verdade vive e quem está morto
Portugal revive nos seus heróis, aqueles que construíram a sua amizade debaixo de fogo, unidos no laço indissolúvel
que o perigo gera e edifica. Assim foi naquela manhã baça
do 28 de Fevereiro, quando partimos ao encontro do LUALECE e ELES não voltaram...
Quem ficou e quem voltou, quem está ausente e quem está presente? Hoje, no nosso coração fervente de saudades, vós estais, amigos de sempre: Simões,Fernandes e Morais!
O sol deverá pôr-se vezes sem conta no Indico, fazendo refulgir no arrebol as tintas de Sangue de Vasco da Gama.
Perto de Vila Luiza, na planície de Macontene, o busto de Mouzinho há-de ainda soerguer-se e apontar a gesta lusitana.
No Limpopo os hipopótamos levantar-se-ão carregados
de nenúfares. Mas no planalto de Lichinga (Vila Cabral)
saudade será maior, e os nossos olhos terão ali ficado vertendo lágrimas, que em torrentes, irão descer até ás moradas dos Macuas e subirão, transformadas em orvalho , pelas espigas da machamba verdejante.
Só como poetas (e em cada homem há um poeta ,mais ou menos evidente) poderemos algum dia entender que aqueles Amigos estão vivos. Ainda que a aparência nos diga o contrário, havemos de que a morte é epílogo da vida, a salvação triunfante que contém o néctar do nosso esforço, a passagem suave para os braços do Criador, o convívio com o Senhor dos Tempos. Como diz o poeta brasileiro, a minha morte nasceu quando eu nasci, porquê tantas lágrimas afinal?
Manhã nebulosa aquela...Só os anjos vislumbraram, por entre as nuvens, a cor do destino. E quando o fumo cinzento se elevou ao céu, exalando o cheiro nauseabundo da gasolina embebida nas areias e, prostradas por terra, gritávamos o nosso desespero. Deus sorria.
Que tontos os homens, afinal.
Todos fomos Portugal....
NOTA: olho muitas vezes este braço queimado em que as poucas cicatrizes me recordam o corpo que ele rodeava e me protegeu da morte. No bolso do camuflado viajava a pagela de Maria Santíssima que sempre me acompanhava. Haverá nisto alguma relação? Digo para mim: porque eu? E só me resta merecer-te Simões, amigo do coração. Havemos de nos encontrar de novo e Viajaremos juntos, nessa picada desminada, raiada de luz, o o sol brilha, mais forte
A própria Alma...
A própria Alma...
Germano de Jesus Rio Tinto
Alferes da C.Caç 1560
Texto transcrito da Revista: O Batalhão n.º3 de 1997
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