domingo, 30 de novembro de 2014

domingo, 30 de novembro de 2014


A C.CAÇ 4141 "OS GAVIÕES" no Lunho de 1973 a 1974

Bernardino Peixoto, Soldado corneteiro da CCAÇ 4141 OS GAVIÕES


  A C.Caç.4141 os Gaviões partiram de Lisboa num avião da TAM a 12 de Novembro de 1972 com destino a Moçambique onde desembarcou na cidade da Beira a 13 de Novembro de 1972. O comandante da companhia foi o Capitão Mil.º António Cardoso.O Capitão com o 1º Grupo grupo seguiu de avião para Nova Freixo.O restante pessoal embarcou de comboio  com destino a Vila Cabral.A companhia foi de Vila Cabral em coluna até Meponda onde pernoitou uma noite no areal da praia esperando pelo embarque da lancha da marinha o que aconteceu pelas cinco horas horas da manhã do dia seguinte. Feito o embarque nas lanchas, a C.CAÇ 4141, rumou pelo lago do Niassa  até Metangula. Aqui e à nossa espera estava uma coluna Militar vinda de Nova Coimbra  que nos conduziu  para o inferno que se chamava (Lunho),onde chegámos a 19 de Novembro de 1972. Fomos render a C.CAÇ.3392 e um grupo de combate da CArt 3504 .                                                         
 No dia 01 de Janeiro 1973,foram vistos três guerrilheiros da FRELIMO ao redor do quartel a observar a vida no interior do mesmo.Foi feito um patrulhamento e aos primeiros tiros  puseram-se em fuga.                                                                                                        
No dia 29 de Janeiro de 1973 realizou-se uma operação à BASE de SEGURANÇA De MEPÓTXE a nivel de companhia.Seguimos em direcção ao RIO da MEPÓTXE onde o Capitão Antonio Cardoso ordenou  uma pausa para escolher qual o grupo de combate iria fazer o assalto ao acampamento.Depois de uma reunião com os oficiais e furrieis presentes foi escalado o 2.º grupo de combate e o restante da companhia ficaram junto ao rio  MEPÓXTE.O  grupo de combate avançou  em direcção à base. O  trilho por onde seguíamos tinha uma inclinação muito grande e um gerrilheiro da FRÉLIMO deu pela nossa presença. Depois de denunciados avançamos com rapidez o  assalto.Depois de uma breve troca de tiros os homens da Frelimo fugiram.Foram aprendidos documentos e  destruídas cerca de trinta palhotas.No regresso ao descer o trilho fomos bombardeados com granadas do morteiro 82 até junto dos restantes colegas da companhia que se encontravam junto do Rio MEPÓTXE.No regresso feito um intervalo para o merecido descanso e fomos  surpreendidos por um grupo de guerrilheiros da FRÉLIMO que nos perseguia.De imediato a companhia reagiu com fogo de G.3 e de Morteiro "60", eles puseram-se em fuga.A companhia reorganizou-se  a ao quartel do Lunho. No percurso fomos atacados por um grande exame de abelhas em que ficou envolvido o sr comandante da companhia e o soldado António Varandas.O Capitão foi de imediato socorrido o 1.º cabo  Fernando Rocha e pelo 1.º cabo enfermeiro Pereira que de imedito accionou o evacuamento do Soldado António Varandas que se encontrou gravemente doente com muita febre devido ás imensas picasdas das abelhas.
 Depois da evacuação,retomámos a marcha de regresso ao Quartel e fomos surpreendidos por uma violenta tempestade que nos dificultou a travessia do Rio Lunho.No dia 15 de Fevereiro de 1973 apresentou-se no Lunho um guerrilheiro da Frélimo com a sua arma automática. Durante o interrogatório denunciou que durante o assalto feito á Base de MEPÓTXE foi abatido o chefe MACUMBA e três guerrilheiro e uma mulher da FRÉLIMO.
O 1.º e 2.º grupo de combate saíram do quartel do Lunho para uma operação ao monte XISSINDO os dois grpos de combate seguiam o trilho em que o capim era demasiado grande que escondia o sol e a luz do dia, percorridos vários quilómetros encontrámos duas palhótas que estavam desertas e de imadiato foram logo destruídas.Tomando todas as deligências os dois grupos de combate fizeram  de imediáto um patrulhamento para verificar se alguns gerrilheiros da FRÉLIMO se encontravam perto do local mas nada foi visto.De regresso ao Lunho seguiamos pelo trilho em fila indiana que poucos quilómetros encontrámos dois trilhos paralelos o pessoal seguiu em frente e o soldado do 1.º grupo de combate Rogério Sampaio seguia em ultimo da fila e se descuidou entrou pelo trilho errado e se perdeu no capim sem que ninguem desse pelo acontecimento.Quando chegamos ao quartel do Lunho verificamos que faltava um elemento que tinha partido e não voltou.Todo o pessoal da companhia choravam aos gritos que tinha-mos perdido um amigo.Como tinha escurecido e não nos foi possivel ir ao encontro dele.No dia seguinte o 2.º grupo de combate ao nascer do dia, saiu à procura do nosso camarada desaparecido.Segimos os trilhos e a uns poucos de quilómetros tivemos um sensação muito grande quando o avistámos logo corremos ao seu encontro, abraçamo-nos com lágrimas de alegria pois tememos o pior. Foi encontrado muito debilitado.Quando chegamos ao quartel do Lunho todo o pessoal gritou de alegria e  foi para o 2.º grupo de combáte mais uma vitóra.O 2.º grupo de combate era chefiado pelo alferes Carvalho Duarte e pelo furriel Serafim Afonso que nunca teve qualquer medo do mato nem dos gerrilheiros da FRELIMO foi um heroi.Era um combatente que nos dava muita força e coragem.

Mês de FEVEREIRO de 1973. 

 De 05 a 10 de Fevereiro efectuámos a operaçãoJAGUADI em direção à base de segurança (OCHA) quando lá chegámos,destruímos uma palhota e cerca de 500m2 de culturas de milho.Feito o patrulhamento foram vistos dois guerrilheiros da FRELIMO armados. De imediato fizémos uma emboscada e o comandante dos dois grupos de combate o Furriel Rapôso de operações especiais (RANG.)  colocou-se por detrás de uma árvore e apontou a sua G.3 em ponto de rajada.Um dos gerrilheiros vinha a comer uma raíz de mandioca e quando se aproximou o  Furriel Rapôso disparou a sua arma com uma rajada de tiros que o abriu de cima abaixo ficou morto no local com a raíz na boca e com os olhos abertos.Foi feito por nós um pedido de clemência ao Furriel Rapôso pois eramos muitos e conseguiamos a sua captura sem haver necessidade de o abater mas o Furriel não nos deu ouvidos e o outro guerrilheiro  pôs-se em fuga.Foi feita a retirada do local e caminhámos em direcção ao Lunho em silencio total com o trofeu que era a arma do guerrilheiro.Esse dia ficou marcado na memória de todos aqueles que assistiram a tanta crueldada.

 A 14 de Fevereiro ,estava eu passeando pela parada do quartel do Lunho debaixo de um sol abrazador senti uma sede terrivel fui de imediáto em direcção a um barraco  feito de tijolos e coberto com chapas de zinco que tinha o nome de cantina.Entrei e pedi ao cantineiro  uma Laurentina uma  fresquinha . Acendi um cigarro e fui à secretaria onde fui ver a escala de serviço e lá se encontrava o meu n.º017516/72 Soldado corneteiro Bernardino Peixoto que tinha de fazer guarda ao posto de sentinela junto do depósito de géneros. No dia seguinte,13 de Fevereiro às 14 horas, pus as cartucheiras de munições á cinta e peguei na G.3 e me dirigi para o posto de sentinela levando comigo uma revista (crónica feminina)para ler e ajudar a passar as duas horas que tinha de estar naquele posto de guarda.De repente olho para o fundo da pista de aviação e vejo um vulto se aproximar e fiquei alertado. Peguei na G.3 e não mais desviei o olhar do vulto que se estava apróximar.Já muito perto de mim verifiquei que era um guerrilheiro da FRELIMO que se vinha render. Trazia a sua arma com as duas mão acima da sua cabeça.De imediáto corri para ele com a G.3 em punho e o gerrilheiro sem qualquer reacção  entregou-me a  arma  abraçou-me,chamando-me irmão.Fiquei muito comovido e com carinho fui entregá-lo ao Comando. O guerrilheiro chamava-se  SAMUEL. Conversando um pouco comigo ele contou-me  que não me alvejou porque não quis.Teve oportunidade de o fazer. A partir desse dia sempre que vinha ao Lunho para fazer de guia no mato ele vinha sempre à minha procura.Abraçávamo-nos.Nunca mais me esqueci desse homem que não quiz roubar a minha vida.

No dia seguinte 15 de Fevereiro 1973,quando terminou a minha função de guarda, fui em direção da minha caserna e deitei-me  na minha cama fumando mais um cigarro e escrevendo um aerograma para a minha noiva que muitas saudades já tinha

Em 28 de Maio de 1973,chegou ao Lunho a primeira parte do pessoal e de máquinas da 2.ª C. de Engª. O restante pessoal e material chegaram nos dias 29 e 30 . A C.cac.4141 de imediato suspenderam todas as operações para fazer a protecção à 2.ª C. Eng. A Operação Intervalo tem por finalidade a construção de uma picada do Lunho para Miandica e aqui recontruír um novo aquartelamento.

.A 29 de Junho de 1973 um grupo de cinco guerrilheiros da FRÉLIMO atacaram com armas automáticas  e emboscaram uma viatura da nossa companhia sem consequências.A viatura seguindo a sua marcha foi detectou uma mina anticarro  que de imediáto foi levantada. 

A 04 de Setembro de 1973  detectámos  duas minas anticarro que de imediato foram levantadas. 

Em 31 de Janeiro de 1974 um grupo de gerrilheiros da FRELIMO atacaram durante 40 minutos o 
aquartelamento de Miandica com morteiro 82 BAZOOCA e armas automáticas ligeiras e pesadas sem consequências para as nossas Tropas.                            

  No dia 06 de Fevereiro de 1974 durante o trabalho da reconstrução do aquartelamento de Miandica  guerrilheiros da FRÈLIMO atacaram-nos e no final  foi capturada uma espingarda automática uma mina antigrupo 7 porta granadas de canhão sem recuo e não tivemos consequências.                

    A 13 de Fevereiro de 1974 a Frelimo com cerca de 10 elementos atacou durante 10 minutos a companhia de engenharia que se encontrava a desatascar uma viatura na picada do Lunho para  Miandica.De regresso ao Lunho uma viatura berliett da C.caç.4141  na picada da Miandica para o Lunho acionou uma mina anticarro a qual ficou praticamente destruída. Nessa viatura viajava algum pessoal que felizmente  só tiveram  ferimentos ligeiros. A picada do Lunho para Miandica começou a ficar intransitável sendo o pessoal reabastecido por  Hélicopetero.

A 19 de Março de 1974 A C.Ç 4141 foi rendida no Lunho pela C.Art.7260 que tomou conta da zona, e a C.ca.4141  seguiu para Malema-Entre os Rios. 
De Malema-Entre os Rios embarcámos para a Cidade de Nampula para o regresso à Metrópole tendo chgado a Lisboa no dia 16 de Outubro de 1974.Foi o dia mais feliz da minha vida. 

 Nota do coordenador na publicação deste  artigo:

O interessante  nesta narração é que eles conseguiam detectar e contar o numero de elementos da Frelimo que  os atacavam. Provavelmente a guerra nessa zona evoluiu  muito, depois que eu estive aí...