sábado, 7 de maio de 2011

sábado, 7 de maio de 2011

A Morte do capitão Valente da 4.ª C.ª Comandos, na estrada Nova Coimbra Metangula!

    

                                                                                         4.ª Companhia de Comandos 

A 4.ª Companhia de Comandos executou, em Agosto de 1968, na região do Niassa, um golpe de mão à Base Provincial Gungunhana, aproveitando informações recolhidas durante a Operação Corvo III. 

Nesta acção, tinha sido feito prisioneiro o chefe distrital de reconhecimento (Sereco) e abatido o comandante da Base do Unango, que transportava uma pasta com documentos.
As declarações do prisioneiro permitiram referenciar a localização da Base Gungunhana e o estudo dos documentos revelou estar marcada pelo chefe provincial, Sebastião Mabote, uma reunião dos chefes militares da Frelimo no Niassa, na base, para discutir as acções a realizar nas regiões de Cantina Dias e Vila Cabral.
Devido ao valor excepcional da informação, à possibilidade de surpreender uma reunião de líderes da Frelimo e ainda de se dispor de um prisioneiro importante, foi decidido realizar uma operação no maior segredo, empenhando efectivos reduzidos, mas escolhidos.
A 4.ª Companhia de Comandos recebeu essa missão, apesar de quatro dos seus cinco oficiais estarem feridos ou convalescentes, incluindo o seu comandante, que, no entanto, se apresentou para comandar a operação. Esta companhia recebeu ainda a colaboração do grupo de milícias do Niassa, do chefe Roxo.
A força ficou constituída por três grupos de comandos de dezanove homens e um grupo de milícias com vinte e seis homens. O planeamento da operação envolveu um restrito conjunto de oficiais, o reconhecimento aéreo feito sobre a zona do objectivo aproveitou um voo de reabastecimento, para não levantar suspeitas, e os pormenores da cooperação aero- terrestre foram acordados com o comandante do Aeródromo 61 (Vila Cabral).
Depois do transporte de Vila Cabral para Metangula e de um acidente com uma Berliet, que causou vários feridos, a companhia de Comandos atingiu, em 27 de Março, a localidade de Nova Coimbra, onde se encontrava aquartelada uma unidade de caçadores e que seria a base de partida para a operação.
No dia 28, de manhã, a 4.ª Companhia saiu de Nova Coimbra, a pé, para o Lunho, e daqui para Miandica, a corta-mato. Em 31 de Março, iniciou-se a fase de aproximação à Base Gungunhana, sendo percorrido durante sete horas um itinerário muito acidentado nos montes Chissindo. A zona onde as populações de camponeses trabalhavam as suas machambas e apoiavam os guerrilheiros, demorou quatro horas a ser atravessada, para evitar que eles detectassem a presença dos militares, que pernoitaram a cerca de três horas da base e reiniciaram a marcha às cinco horas, de 1 de Abril.
Entretanto, às sete da manhã descolaram do aeródromo de Vila Cabral dois aviões, um DO-27 e um T-6, este último armado com bombas e rockets, para executarem o bombardeamento do objectivo.
Os Comandos, posicionados a cerca de mil metros da base, em dispositivo de assalto em meia-lua, avançaram após o lançamento das primeiras bombas, atacando os guerrilheiros que procuravam escapar ao bombardeamento.
Deu-se depois início à busca no interior da base, tendo sido encontrado muito material.
Como resultado desta operação, foram mortos vinte e dois guerrilheiros e capturadas três metralhadoras antiaéreas, dois RPG-2 e trinta espingardas de vários tipos, o que revela o grande desenvolvimento que a organização militar da Frelimo já havia alcançado no Niassa.
Na continuação da Operação Marte, após o assalto à Base Gungunhana, a força de comandos regressou a pé do Lunho, para Nova Coimbra, em 10 de Agosto. Neste quartel encontrava-se a coluna de viaturas que devia trazer a companhia de regresso a Vila Cabral. Dado o cansaço do pessoal e as más condições de alojamento, o capitão Valente decidiu fazer uma paragem em Metangula, para pernoitar, e tomou o seu lugar na primeira Berliet.

«Saímos de Metangula às oito e meia do dia 11 de Agosto. Eu seguia na segunda viatura quando, a cerca de oitocentos metros da bifurcação Nova Coimbra/Metangula, ouvi um rebentamento característico de mina, ocorrido no veículo da frente. Acorremos imediatamente à viatura sinistrada, a justo tempo de retirar vivo o alferes António Calvinho. Foi-nos, porém, impossível socorrer o capitão Horácio Valente, que já não apresentava sinais de vida e ardia no fogo que consumia a viatura... »    


(do relatório do comandante da escolta).

quinta-feira, 5 de maio de 2011


Ataque de um leão em Metangula

             
                                                                                          Domingos Pereira, foi soldado condutor da CCS do Batalhão de Caçadores 1891 e deu-nos o seu testemunho do ocorrido a 10 de Maio de 1967. Encontrava-me de convalescença no quartel em Metangula devido à viatura que conduzia a 1 de Maio daquele ano, perto de Nova Coimbra, ter rebentado uma mina. Um autóctone e o seu filho com 9 anos encontravam-se à pesca, com rede, junto às margens do Lago Niassa e próximos do Postos de sentinelas que haviam à entrada de Metangula de quem vinha de Nova Coimbra e de Maniamba. De repente foram surpreendidos por um ataque dum leão. Alertados pelos gritos os sentinelas foram ver o que se passava e depararam com um homem muito ferido no peito e no pescoço. Do quartel vieram reforços que transportaram o ferido para o hospital da Marinha que havia em Metangula. O ferido relatou então, que tinha lutado com o leão para salvar o filho, mas tal foi impossível depois de levar uma patada do leão que o deixou bastante ferido, ferimentos esses que o levaram à morte. Uma patrulha comandada pelo Alferes Presa na qual eu me incluía foi à procura do jovem e do leão. Não encontrámos quaisquer vestígios e conduzimos os soldados para os seus Postos ,3 em cada Posto.Como era de rotina às 24 horas de cada dia, o pessoal do Exército era rendido pelos Fuzileiros e foi quando estes se dirigiam para os Postos de vigilância, que ouviram tiros e lá chegados viram um soldado muito ferido e transportado aos ombros pelos seus 2 camaradas. O ferido foi conduzido para Metangula, daqui para Vila Cabral de onde foi transportado para a Metrópole. Os camaradas contaram que,lutou com bravura e o leão só fugiu quando foram disparados os tiros. Felizmente, recuperou e ainda hoje faz a sua vida normalmente.Atacadas as sentinelas, o Cmdt. do Batalhão deu ordens ao pessoal sob o comando de um Oficial e com a ajuda de 1 polícia e de vários Cipaios a “passar” a pente fino a serra em busca do jovem autóctone e se possível abater o leão. Depois de muitas buscas o animal foi encontrado debaixo duma árvore. O polícia aproximou-se o mais possível e desferiu-lhe um tiro que o matou de imediato. As buscas para encontrar o jovem foram retomadas e ao cair da noite foram dadas como encerradas e chegando-se à conclusão que tinha sido devorado pela fera. Este ataque era motivo de muita conversa e curiosidade e quando dias depois fomos recolher o animal, chegámos à conclusão que devido ao aspecto esquelético do animal, este devia ser muito velho e por isso abandonado pelo seu bando. A fome levou-o a atacar os humanos.